Eu não quis te acordar quando, no meio da noite, entendi que aqui não era mais meu lugar. Você dormia tão calma, um suspiro pesado e a boca entreaberta. Eu invejei um pouco a sua tranquilidade, eu invejei você saber o que eu não sei. Você tem sorte, eu acho.
Não é como se eu estivesse no fundo do poço, porque lá eu ao menos tocaria os pés no chão e tomaria impulso para subir. Eu estou no meio, suspenso. É um esforço tremendo tentar chegar até a borda, e talvez seja mortal tentar alcançar o fundo. É repleto do silêncio de palavras desconexas que não me fazem sentido, o silêncio de uma multidão que eu preferiria ignorar. A mesma multidão que só me empurra, que vira correnteza nesse oceano, que define minha rota. E eu não gosto dessa sensação, entende? Eu preciso ter o mínimo de controle sobre as coisas, sobre mim mesmo.
Eu não quis te acordar quando eu acordei. Você parecia confortável demais nessa vida, nessa cama. E essa não é a minha vida, ou a minha cama. Ou era, mas eu não me sinto confortável em mais nada disso. E esse talvez não seja eu.
Fiz as malas em silêncio.
E não sei para onde ir.
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