24 de fev. de 2014

PVA

Peguei o tubo de cola branca no velho estojo. Sequer faço ideia de quanto tempo havia passado desde a última vez que mexi nesse estojo, nessa cola, nessas coisas. Tudo se tornara desbotado.

Abri o tubo e deixei o líquido branco e grosso escorrer pelas minhas mãos. O cheiro forte, plástico. A cola deslizava viscosa, fria, familiar. Fiquei observando aquela grossa e maleável camada secar, transmutar-se do branco para o transparente. Muitas horas se passaram até aquele momento. Fiquei imóvel, deixei que a cola tomasse a minha forma, a minha cor. Era parte de mim, minha armadura despolida.

Foi então que eu deixei de pertencer. Sem ao menos contar até três, arranquei aquela camada diáfana e observei as marcas de meus poros dela. Simulacro de pele, de proteção. Feito cobra, cresci.

Me livrei da pele antiga e me observei em carne viva. Me refiz no frágil, desconheci parte de mim.

Meus pedaços não me pertencem.

Um comentário:

Marcio Hasegava disse...

Eu também adorava fazer isso.